Mangia que te fa bene

É automático: a gente ouve falar em Itália e logo pensa em pizza e macarrão (ok, ok, em vinho também!). E eu, depois de me descobrir celíaca, ficava pensando sobre a dificuldade de ser celíaco vivendo na Itália com aquelas massas e molhos maravilhosos – ainda mais considerando que a comida é o centro da vida social dos italianos! 

Mas não é que em algumas leituras recentes, descobri que é justamente o contrário? Pois é: justamente pela grande quantidade de trigo presente na culinária italiana, é mais fácil perceber os sintomas da doença celíaca no país. De acordo com o último censo oficial publicado pela Associazione Italiana Celiachia, em 2015, o país contabilizava 172 mil celíacos diagnosticados, mas a estimativa de número real é bem maior. O país percebeu, portanto, a necessidade de se organizar para promover a conscientização da população em relação à doença e às mudanças necessárias para atender da melhor forma aos que têm essa restrição alimentar.

Por isso, por mais irônico que possa ser, a Itália é tida como um dos melhores lugares para a alimentação de celíacos. Alguns indicativos? Vamos lá:

  • Há opções de alimentos para celíacos, como macarrão e biscoitos à venda até nas farmácias, não só em supermercados, lanchonetes e restaurantes. É mesmo uma questão de saúde, de risco. Não colocam este tema nas categorias bem-estar, conveniência ou estar na moda; 
  • Mesmo nas cidadezinhas menores, é possível encontrar locais que sirvam, com segurança, opções gluten free
  • Há associações que promovem treinamentos específicos nos restaurantes, o que faz com que, segundo os relatos, não só a equipe da cozinha, mas também do salão, entenda da questão com profundidade, transmitindo segurança aos clientes que solicitam informações;
  • Várias cidades realizam eventos do tipo “Gluten Free Day”, para conscientização da comunidade local. 

Por fim, duas ações muito interessantes lideradas pelo governo. A primeira é uma lei que exige a oferta de alimentos sem glúten no cardápio de escolas e hospitais. A segunda, uma ajuda de custo mensal para quem sofre da doença, já que os alimentos especiais sempre têm preços mais altos.

O destino já conta, inclusive, com guias e apps específicos sobre onde comer. The Gluten-Free Guide to Italy, por exemplo, lista uma série de opções em Roma, Veneza e Florença, assim como o aplicativo Mangiare Senza Glutine, que pode ser baixado em iOS. 

A organização italiana causou até ciúmes (ciúmes bom, neste caso!) nos vizinhos espanhóis, que brigam por um subsídio estatal, que ainda não apareceu, a não ser de forma pontual em algumas comunidades autônomas. Ainda que as famílias reconheçam o aumento da oferta desses alimentos, o preço ainda assusta e faz diferença no orçamento mensal. Além do modelo italiano, as associações espanholas têm como referência outros países da União Europeia que oferecem subsídio, como a Dinamarca, França e Holanda – essa última, ainda mais avançada, permite escolher entre uma ajuda financeira ou dedução do imposto de renda. 

Célia

30/10/2019

*Estamos compartilhando nossas experiências mas não somos médicas ou nutricionistas. Consulte um especialista para uma orientação profissional.

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